Por Ademilton Barros
Esta comunicação vem
apresentar um apanhado de acontecimentos do mês de fevereiro, do corrente ano
das atividades do grupo de teatro Quem Tem Boca é Pra Gritar. O mesmo, será
divido em dois momentos, no primeiro farei um apontamento em linhas gerais dos acontecidos,
já no segundo e último tentarei abrir uma discussão sobre o trabalho de
construção das músicas para o novo processo de montagem do espetáculo
intitulado “Shakespeare com suco de
laranja”.
O projeto Cine Por do
Sol continua em funcionamento, quinzenalmente nas quintas feiras (nas 2ª e 4ª
semanas) e está sendo um sucesso. Neste mês, se realizou um evento em especial
que foi um bloco carnavalesco organizado pelo Quem Tem Boca, denominado “MENOR CORTEJO DO MUNDO”, que tem por
finalidade reunir os amigos do grupo e dos componentes na semana previa do
carnaval e comemorar o mesmo com um baile “Eita
Saudade!” de características saudosistas, com o tradicional mela-mela,
banho de mangueira e marchinhas tradicionais antigas, e por fim um cortejo que
saiu da sede, desceu e subiu a ladeira São Pedro Gonçalves, fazendo do percurso
jus ao nome do bloco.
Com relação ao novo
processo de montagem do espetáculo “Shakespeare com Suco de Laranja”, entramos
no segundo módulo do trabalho que é a dramaturgia, neste, estamos sendo
acompanhados pelo ator, diretor, dramaturgo e professor da Universidade Federal
da Paraíba Everaldo Vasconcelos.
“É
preciso amadurecer a não procura da música, mas partir da musica para a
expressividade sonora”. (LOPES, 2014)
O
trabalho musical está sendo direcionado pelo ator, músico e componente do grupo
Cleiton Teixeira, que está trazendo uma forma diferente, desconhecida pelo
grupo, de construção musical, que seguiu a seguinte estrutura: 1º cada pessoa escolhia uma palavra; 2º Dividia a palavra (divisão
silábica), exemplo com a palavra arroz
(ar – roz); 3º depois dessa divisão
emprega-se a cada silaba uma variante entre agudo, médio e grave, tomando ainda
como exemplo a palavra arroz, “ar”
pronuncia-se agudo e o “roz” grave; 4º todos juntos de forma sequenciada
íamos pronunciando as palavra com suas devidas divisões e variações de altura, a
partir daí já se percebe uma pré construção de melodia indefinida, por não
obedecer uma forma linear de execução; 5º
A partir dessa palavra agrega-se outras, transformando-a em frase, ex: pra
comer com arroz. Seguindo o mesmo princípio da variação de altura, só que desta
vez empregada na frase. Em seguida fizemos a transposição desta melodia, a
princípio vocal, para o instrumento e tentamos desenvolver uma forma própria de
anotação desta música. Segue a baixo as primeiras palavras utilizadas e depois
formatadas em frases:
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Feijão Comendo feijão
Porta abrí à porta
Cuscuz e fiz um cuscuz
Arroz pra comer com arroz
Esta formatação da música, se é que podemos chamar com esse termo, pois segundo o site Que Conceito revela que “Com a palavra música designamos aquela arte de organizar de modo sensível e com lógica a combinação coerente de silêncios e sons utilizando como parâmetros reitores para levar a cabo e com sucesso tal atividade” [1]. O que podemos extrair deste conceito é apenas o ícone organização dos sons. A princípio chamamos de “Anti-música”, por não obedecer às normas existentes na construção musical, pois essa terminologia se aproxima da nossa proposta, partindo da ideia de Caio Caos colocado no blog “Reflexões terroristas e dadaístas” diz que “Anti-música é uma ideologia na qual se encaixam artistas que utilizam de barulhos e improvisação para se expressar musicalmente” [2].
Na verdade o que estamos buscando para construção dessa musicalidade ultrapassa
essa ideia de anti-música, bebendo em várias fontes, à exemplo de John Cage,
que foi um dos pioneiros da música aleatória e do uso de instrumentos não
convencionais, até influências da própria música formalizada de Geraldo Azevedo,
passando ainda pelas decafônias do Arrigo Barnabé e a própria música
renascentista, sendo quase impossível tratar de uma obra de Shakespeare sem
remeter a música da época (século XVI). Todo esse turbilhão de informações e de
influências que buscamos, irá resultar numa “Caosfônia” termo desenvolvido pelo grupo e proposto por Humberto
Lopes.
[2] Disponível
em http://terrorismoporpaz.blogspot.com.br/2011/01/anti-musica.html acessado em 07/03/2014 às 14h30min.