Cancão, Malazarte e Trupizupe

Cancão, Malazarte e Trupizupe
Praça central da cidade de Jacaraú

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

03/08/2010
O papel do diretor

Durante o turno da manhã concentramos as discussões nos principais pontos abordados do Capítulo III do Paradoxo do Teatro de Grupo. Começamos destacando uma das colocações que Trotta (1999) faz quando fala sobre o papel do diretor dentro das organizações de grupo. Segundo a autora, em 99% dos casos o diretor do espetáculo é o mesmo que lidera o grupo, ou pelo menos assume esse nome. Relembrando a história do “Quem tem boca” percebemos que foi mais ou menos assim durante sua existência, mas algumas vezes o grupo optou por convidar diretores de fora. Dentro destas discussões chegamos a nos perguntar qual o limite entre direção coletiva e direção individual? Será que é realmente possível haver uma direção individual quando se trabalha em forma de grupo? Se pensarmos somente sob o viés da criação estética pode ser que sim, mas quando trata-se da elaboração de cenas, improvisações, fica difícil destacar a separação entre trabalho coletivo e individual. Através de reflexões chegamos a um ponto em que todos concordaram ser importante ter um diretor (a) que veja de fora o trabalho que está sendo feito em cena, principalmente pela dificuldade que existe por parte dos atores-criadores quando estão “mergulhados” no momento da criação em ver o que realmente está acontecendo. Para Humberto, as direções coletivas são falhas e em sua grande maioria não acontecem por que alguém sempre acaba tomando o “poder” da criação. Uma opinião colocada por ele, mas que não se delongou muito visto que não tínhamos embasamento necessário para falar sobre tais processos, achamos melhor passar para o próximo assunto.

As escolhas!

Instigados pelas argumentações feitas por Rosyane Trotta, falando mais uma vez em limites, nos perguntávamos se há dissociação entre pesquisa individual e coletiva. Colocamos que por um lado podemos ter “pontes” que unam o que o indivíduo e o grupo almejam, isso seria unir o útil ao agradável. Por outro há a possibilidade de haver um desligamento entre ambos os lados, onde o integrante tem sua participação dentro e fora do grupo, não obrigatoriamente focando nas mesmas áreas. Essa discussão nos tomaram bastante tempo, pois sentimos que era complicado estabelecer essas diretrizes de forma tão radical. Existem dois fatores, segundo o que discutimos, que devem ser levados em consideração: o tempo de convivência e o comprometimento individual. Um é igualmente proporcional ao outro, por isso é uma decisão a ser tomada a longo prazo, dependendo assim de grupo para grupo. Podemos dizer que quanto maior for o tempo e a dedicação do integrante dentro do grupo mais definido será seu papel dentro deste coletivo, podendo ou não assemelhar-se às suas pesquisas individuais.
Durante o trabalho da tarde confeccionamos algumas máscaras neutras que estavam faltando e demos continuidade ao projeto do BNB que também tinha pendências a concluir. À noite fizemos o trabalho com a máscara neutra guiado por mim e Mirtthya. Antes de começar o alongamento Mimi propôs uma dinâmica onde cada um do círculo cantava um trecho de uma música, a primeira que viesse à mente, e depois todos cantavam juntos. Depois do alongamento, puxado por mim, começamos a trabalhar com as variações de desequilíbrio já vistas no outro ensaio. Dentre elas estavam: “minhocar”; desequilíbrio espontâneo; desequilíbrio partindo de focos em partes diferentes do corpo. Em seguida fizemos o mesmo exercício do foco numa dinâmica diferente onde um objeto (bola) era sempre o foco e nós tínhamos que variar nossas intenções com relação a este mesmo. Foi um aquecimento bem aproveitado que não fugiu da temática que estávamos tratando.
Partimos para o trabalho com a máscara neutra, quem começou foi Papa (João Paulo) e apesar de ter tomado um tempo longo para fazer o experimento ele se utilizou de várias desconstruções do corpo que me fizeram como espectadora acreditar que havia uma eficiência no “tornar-se uma folha em branco”. Um dos fatores que mais contribuíram para que o trabalho com a máscara não funcionasse tanto foi a triangulação, que apesar de feita foi pouco aproveitada e isso causa um desinteresse inevitável da parte de quem está assistindo. Percebi que Papa estava entendendo mais o intuito do exercício quando já o estava fazendo há um longo tempo, por isso tivemos que tocar o sino do triângulo anunciando o fim. Cleiton, segundo o que eu pude perceber, conseguiu explorar bem a desconstrução dos membros, mas assim como Papa triangulou pouco suas descobertas. A máscara neutra passa essa necessidade, quase que imprescindível, de mostrar, exibir o que está sendo feito, mesmo que não pareça muito interessante. Uma das etapas bem aproveitadas por Cleiton foi o “levantar-se”, pois ele conseguiu pesquisar seus apoios sem a ansiedade de ficar logo de pé da forma mais previsível, como a maioria vinha fazendo. Acredito que esses momentos que nos chamam atenção são os que mais revelam a veracidade com que o trabalho está sendo feito, pois se nada nos surpreende quer dizer que já conhecemos e dominamos as movimentações e ações de quem está executando o exercício, e esse não é definitivamente seu propósito. Maicon foi o último da noite a fazer a experiência e de uma forma geral ele trabalhou bem as descobertas, a questão dos apoios para sentar, ficar de pé. Ele teve paciência de descobrir primeiro os braços e depois as pernas, o que com os outros não tinha acontecido. Apesar de não ser ainda pedido nessa fase da experimentação ele deu importância aos sons externos. Mais uma vez a triangulação não foi bem feita de forma que prendesse a atenção dos espectadores. Enfim, percebemos que precisamos investir mais nesse trabalho, principalmente no que diz respeito a sua precisão. Além disso, devemos procurar fazer o link entre o que está sendo trabalhado no aquecimento (como o caso do FOCO) e a parte da criação. A importância e complexidade da máscara está em transportar o foco dela para onde quer que seja, sem perder a neutralidade do movimento.

Cecília Lauritzen